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Férias - 4 - Como a Neve poderia ter destruído nossos estudos

Voltando ainda mais no passado, chegamos finalmente à época de provas, os temidos DS.  O objetivo deste pequeno relato é revelar os segredos do nosso - assim espero - sucesso e o que quase acabounos tirando toda a perspectiva de conseguir estudar: a Neve.
Contando a partir do retorno das férias de Natal, tínhamos exatas duas semanas para estudar e duas semanas de provas, sendo uma primeira com apenas duas provas - e na qual continuaríamos a estudar freneticamente - e uma segunda com pelo menos uma prova por dia, o que não nos impediria de estudar até bem tarde pra digamos assim, "revisar", pra não dizer que em alguns dias aprendíamos a matéria na véspera.

Alguns de nós, leia-se Patrícia, Flávio, Rayanne e Aline, até onde eu sei, seguiram um calendário todo organizado pela Pati, onde estudaríamos uma matéria por dia, com calma, pra dar pra aprender tudo. Como bons procrastinadores e enrolados que somos, os outros foram, dia após dia, fazer outras coisas. Eu por exemplo ia resolver papeladas e organizar minha casa. Passada a primeira semana, já veio o desespero. Aproveitando que estava frio, e não dava vontade nenhuma de sair de casa, comecei a estudar que nem um louco e mal dormia. Foi assim por quase uma semana, até que...

Após uma semana de temperaturas em torno de zero, às vezes negativas, acordo na sexta feira e vejo neve pela école inteira. Em cada telhado, em cada arbusto, em cada carro totalmente encoberto, as partículas alvas e gélidas de neve se acumulavam. Assim, neste dia no qual fortuitamente eu não tinha aulas, fui para a école fazer um trabalho - porque os franceses adoram fazer trabalhos nos dias livres!
Dei uma atrasada de meia horinha brincando lá fora, no gelado, antes de pensar em entrar  nas salas de computação pra fazer o trabalho com eles. Mal sabia eu que passaria a vergonha do mês (depois da prova de MMICD)
No caminho, eis que encontro Emilie Poirson, a professora que vai até o Brasil fazer as entrevistas de seleção. Ela me pergunta:
"- Foi a primeira vez que você viu a neve?
- Sim, eu tava lá fora brincando um pouco, respondo
- Tem que aproveitar mesmo."
Até aí tudo bem, mas ela começa a chamar todo mundo que passa por perto e comentar com as pessoas:
- Olha, ele veio do Brasil e nunca tinha visto a neve!
A primeira vez eu não liguei muito, mas lá pela quarta eu acabei ficando muito envergonhado e fugi.
Assim que terminei a parte do dia do tabalho com os franceses, juntei aos demais brasileiros e fomos brincar juntos na neve. Foi muito bom, ficamos bem uma hora e meia jogando neve e brincando com o gelo que se forma por cima.

Fomos em seguida almoçar, e o plano era estudar a tarde inteira.
Pena que o Paulo, que estava em aula de manhã, e o Vini, que estava fazendo sei lá eu o que, me ligam e voltamos a brincar, desta vez do lado da Rez, atirando bolas de neve uns nos outros e nas casas das pessoas. Depois que o Renan e a Rayanne se juntaram a nós, continuamos fazendo guerrinha de neve, até que um francês aleatório junta-se a nós. De minha parte, eu acreditava piamente que ele conhecia o Renan. Na cabeça dele, era eu quem o francês maluco conhecia.
Ficamos brincando de guerra de neve até acabar com toda a neve que tinha em cima dos carros do estacionamento da école, e no meio tempo foram aparecendo pessoas e mais pessoas, incluindo o italiano Enrico e o Ma Rius, um alemão que fala português e dança forró melhor que muito brasileiro.
Acabamos indo tomar chocolate-quente na casa do Ma Rius, e depois cada um foi pra sua casa se recuperar da friagem que pegamos o dia todo.

Eu  já estava temendo pelos meus estudos, já que foi completamente impossível estudar num dia de neve. Para a minha sorte/azar, no dia seguinte já não tinha mais neve, e continuamos o ritmo de estudos. Dessa vez me juntei ao grupo dos sérios, e acabou que tivemos uma semana de estudos muito boa. Dicas que funcionam pra estudar nas centrales:
1) Tínhamos um planejamento, o que nos fazia não deixar o tempo passar sem ter pelo menos nos esforçado pra aprender a matéria do dia.
2) Estudamos em grupo, o que ajuda muito no fator motivação.
3)Compramos uma lousa e fazíamos "aulas" nas quais cada um explicava o que sabia, e, assim, acumulando conhecimentos, chegamos num nível aceitável de conteúdo de cada matéria. Tivemos até mesmo ajuda de veteranos dando aula ( agradecimentos especiais ao João Cachecol, que poderia ter nos salvo em MMICD se os professores não tivessem avacalhado e errado no enunciado da prova)
4)Nesta mesma lousa, resolvíamos provas juntos, o que é bem útil uma vez que muitas das provas são bem parecidas com as dos anos anteriores.

Após muito esforço,cansaço, vários cafés e algumas poucas horas de sono, os DS tinham passado e estávamos livres leves e... De semestre novo.
Aqui não temos férias entre os semestres. Nada que atrapalhe muito, afinal ninguém vai nos Amphis elas logo chegaram.


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