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Semana Ski

Passada a inspiração/depressão das últimas horas, bora voltar às atividades normais desde espaço: relatar minha vida e minhas experiências na França.
E a última delas foi muito boa. Todos concordamos que é algo que se nos dissessem que faríamos há um ano, teríamos dito "até parece, isso é coisa de milionário!". Mas lá estávamos todos esquiando nos Alpes Franceses.
Estávamos, segundo meu telefone, na cidade de Huez. O trajeto não foi, digamos, o mais curto. Demoramos bem umas 13h num ônibus que parava quase a cada hora, se perdeu e, além disso, tinha franceses loucos com música - aparentemente uma música clichê de ski na França, de um filme chamado "Les Bronzés font du Ski". Como eu dormi pelo menos umas 6/7h, não foi tão ruim pra mim, e além do mais estava descansado como novo quando o pessoal da música começou a dormir.


Chegando lá pegamos a ração da semana - não se assustem com o termo, mas como escoteiro é assim que eu chamo um pacote de comida que nos dão pra passar a semana, o material de ski e as chaves do quarto. Éramos 10 brasileiros, divididos em 2 quartos de 4  - a saber eu com os veteranos, a casa da Place Royale (um post sobre isso futuramente)- e um último quarto com Gustavo, Kevin e dois franceses, sendo uma a Alexia coloc da Aline, nossa francesa mais brasileira. Como era meio tarde, não esquiamos e fomos todos pro bar que tinha ali do lado e que estaria nos recebendo.

Na manhã seguinte todos acordamos cedo pra esquiar. Cabe deixar registrado que o período em que se esquia na verdade não é muito longo, das 9h da manhã às 17h. Não que eu tenha ficado algum dia o período todo, mas não dá pra se dar ao luxo de parar pra almoçar, demora muito pra se arrumar e criar coragem de ir pra neve. Sendo assim, normalmente deixamos de almoçar pra ficar direto nas pistas, comendo um lanchinho na hora do almoço. Quem esquia bem para num canto fora de alguma pista, nós iniciantes (em geral eu, Pati e Flávio) subíamos em algum lugar de teleférico e comíamos em algum lugar bonito. Falando em teleférico, os franceses adoram e tem várias palavras pra isso, desde o óbvio "télépherique", passando por "télésiège" e "télécabine", pra alçar o inesperado termo "téléski".

Pra não deixar de falar de esqui, vou contar minha experiência. Logo na primeira pista, o Maurício errou a mão e quis levar eu e a Pati pra uma pista Azul, que "é curtinha e logo chega numa verdinha fácil", mas ficamos caindo infinito, e como era muito alto ficamos os dois hiper-assustados, a Pati ficou meio traumatizada mesmo, demorou uns dois dias pra ter confiança pra pegar uma pista inteira.

Digressão: as pistas começam na cor Verde e, de acordo com o nível de dificuldade, podem ser ainda Azuis, Vermelhas ou Pretas, que chegam ao topo da montanha e podem ser até bastante perigosas.
Vou aproveitar o momento pra explicar que a neve no fim da estação (fomos, justamente, na última semana da estação de esqui) começa ruim na manhã - visto que as máquinas de neve passam antes de abrirem as pistas - e fica péssima no fim da tarde, quando começa a derreter com o calor da primavera - lembrando que pra neve qualquer temperatura maior que 0ºC está errada.Fim da digressão.

Depois do susto e de muitas quedas acompanhando o Maurício - não por uma questão de habilidade, mas sim de completa falta de controle - eu parei  - por sorte, foi realmente por pouco que não caio feio - na frente da pista onde as criancinhas de 4/5 anos tem aulas. Foi ali mesmo que eu passei minha manhã, aprendendo pouco a pouco a me virar com os patins. Depois de um bom dia quase inteiro ali copiando o movimento de gente que não sabe nem falar mas esquia melhor que eu, fui pra pista adulta logo do lado, o fim de uma verde bem fácil. Como eu já estava até que dominando bem, no dia seguinte continuei com os bebês na parte da manhã, mas a tarde fui numa pista verde de verdade, inteirinha. Foi tão bom que fizemos mais vezes. Continuamos indo apenas nas pistas verdes até a quarta, quando eu e o Flávio fomos nos meter a fazer uma Azul. Como aquele negócio era íngreme!! Demoramos uma hora pra fazer a pista, e como ainda estávamos alto na montanha, num lugar onde só tinha outras pistas azuis, resolvemos descer de teleférico pra garantir nossas vidas. 

Morto de susto e precisando defenestrar um pouco, resolvi sair a noite e peguei balada com uns franceses do novo BDS, um deles o Thomas do meu grupo. Antes disso rolou um jantar num restaurante com todos da école. A comida estava muito boa, mas o pessoal do rugby não parou de cantar o tempo todo, eles se intercalavam, não sei como comiam. Chegaram até mesmo a tirar a roupa e a merda toda de ficar cantando besteira. No fim eu estava com indigestão por causa do estresse da refeição. O ponto bom do jantar foi ter vinho infinito, então todos bebemos legal.
Mais a noite, como os brasileiros estavam no modo "vovó e vovô", me incrustei com os franceses e fomos na balada local, chamada Igloo, mas foi completamente FAIL. No total éramos uns 8 na balada - e chegamos em 3, o que quer dizer que tinha outras 5 pessoas -todas menores de idade. Mas como tanto eu como os franceses estávamos bem calibrados foi até engraçado. Voltamos e eu aparentemente acordei o quarto todo as 2h da matina. Mas pior mesmo foi acordá-los de novo às 7h gorfando e de estômago meio ruim. 

Como estava meio estragado, resolvi nem esquiar na quinta, e daí eu, Pati, Flávio, Rayanne e Aline fomos visitar o topo da montanha. Tínhamos almoçado no que achávamos ser o pico no dia anterior, mas descobrimos que tínhamos pego um andar abaixo. O trajeto em teleférico demorou bem uma meia hora, mas a vista valeu cada instante. Aliás, esse viagem foi campeã de fotos de paisagem, categoria "infinitas paisagens todas muito parecidas mas que surpreendem infinitamente e te fazem babar toda hora".

Sexta-feira esquiei sozinho o dia todo, o melhor que pude, tentando ao máximo controlar as curvas e paradas, pra "solidificar" o conhecimento. Posso dizer que aprendi um pouquinho a esquiar, apesar do medo e da dificuldade. Como era a última noite, ficamos até bem tarde bebendo e jogando cartas entre brasileiros (e Alexia, que já estava incluída no grupo até pelos franceses), até que chegou o vigia e mandou fazer silêncio. No momento Verdade ou Desafio, foi piorando, piorando... E então fomos todos dormir pra arrumar os quartos cedo pra inspeção  - essa prática é muito comum na França, as pessoas que limpam os quartos dos chalés ou hotéis antes de irem embora.

A viagem de volta foi, em uma palavra, longa. As quase 12h pareceram muito mais longas que na vinda, tanto pelo barulho constante dos Rubgeux quanto pelo fato de ter sido de dia e ninguém ter virado a noite e ficado cansado pra dormir infinito. O único ponto bom foi ter aprendido um pouco das músicas de putaria (chansons paillardes, em francês) que eles cantam em ônibus... Se é que isso é um ponto bom, né...

A título de ilustração a quem possa interessar


Le Grand Vicaire


Au 31 du mois d'Août (sim, essa tem até versão escoteira)


Essas outras eu deixo só o nome:

Les pouces en Avant (et tchic et tchac)
La boÎte a Kaka
Le père Abraham


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