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Past-Forward - 14. Acampamento de Grupo

Acho que poucas palavras são capazes de deixar um escoteiro tão feliz quanto "Acampamento de Grupo". É a atividade que vem pra fechar com chave de ouro o ano de atividades, pra mandar a gente pra casa com gostinho de quero mais e vontade de que as férias passem logo pra poder voltar às atividades.

E, ao mesmo tempo, acho que poucas são as experiências que um dia serão tão marcantes quanto o escotismo para mim. E na França não podia deixar de ser assim. Em janeiro, comecei a participar das atividades de um grupo local, "Sèvre et Loire" como chefe lobo. Com o peso da apreensão do começo, e do medo de não ser mais jovem no movimento, e de não ter ninguém pra me salvar no caso de emergência linguística,  nunca pensei que me adaptaria tão rápido! Antes que eu pudesse perceber, já se foram seis meses incríveis, repletos de muita diversão, alguns apertos com os lobos, umas broncas e várias reuniões alimentícias entre chefes. 

Assim, como todo bom fim de ano no escoteiro, chega a hora do AcampaGrupo, que teria um desafio a mais pra mim. Além de ser minha primeira vez como chefe, o que já dá um pouco de coisinha na barriga, e de ser com certeza 100% em francês, o desafio era participar de um acampamento de um grupo que não é o de sempre, que não tem todos os chefes que eu conheço desde sempre, que não tem os Patrulhões e a loucura que é montar canto de patrulha só nos momentos livres, sem jogo noturno (já que lobinhos não tem isso)...

Para nossa alegria, éramos em mais chefes do que o normal, e muitas das atividades tinham sido planejadas pela organização geral - os chefes lobinhos tinham ficado responsáveis só do fogo de conselho. Nós ficamos bem livres, a gente parecia mais um bando de pioneiros fazendo besteira durante o acampamento. Era chefe rolando na grama, fazendo piadinha, se juntando pra falar besteira...

Durante o dia tudo foi bem calmo, fizemos até uma siesta antes das crianças chegarem. Boa parte do acampamento tinha sido organizada pelo Pierre, um chefe que acabou de voltar do seu mestrado no Congo e que está cheio de histórias pra contar. Montamos barracas, fizemos o jantar, tudo calmamente. Vale lembrar que já estamos no verão aqui (apesar das temperaturas e do tempo dizerem o contrário, o tempo que os dias duram não mente), então não ficou escuro até o fim do fogo de conselho, durante o qual fizemos o que mais se parecia com os patrulhões, apesar de não ser muito organizado nesse ponto, as equipes não estavam muito equilibradas. Eu estava com um grupo sem nenhum sênior, e os pioneiros não participam, especialmente porque só tinha um.

Após o fogo de conselho foi a grande festa dos chefes. Depois de mandar os jovens para as barracas e se certificar que tudo ia bem, voltamos pro fogo, pra fazer a "quinta refeição", contar histórias e cantar juntos. Mágico. Um bando de gente que mal se conhece falando besteira e cantando um bom tempo em torno do fogo, como se se conhecessem há anos. Dá pra entender porque todos continuamos a fazer isso por tantos anos. Como é de praxe, fiquei ultra-emocionado ao cantar a Canção da Despedida, agora puxando, já que sou o único que conhece (foi bizarro saber que não se cantava isso em todos os lugares, eu podia JURAR que todos os escoteiros DO MUNDO cantavam isso). Em contrapartida, eles puxaram uma canção que se chama Evenou Shalom Halerem, que é também bastante tocante.

No segundo dia, seguimos as atividades após uma noite numa "manjedoura" - já que não tinha barraca pra todos os chefes, eu e o Guillaume fomos pra uma tenda onde estava estacionada uma van pra dormir. Acerto do dia, já que lá os lobinhos não nos acordaram durante a noite. Os outros chefes não tiveram a mesma sorte, mas sobrou só pra Marie, já que o Victor e o Benoît mal ouviram o que se passava.
Estava previsto para a manhã um jogo organizado pelos Pioneiros. Que, como nos notamos muito bem entre chefes, com várias piadas e comentários a respeito, não estava muito bem planejado. Mas ainda assim estávamos todos como malucos nos batendo pelas vidas, correndo uns atrás dos outros e nos jogando no chão, pior que as crianças.

Depois do jogo fomos almoçar - tivemos alguns problemas devido à chuva que resolveu começar no meio da refeição - e então veio a missa de encerramento. Como a SGDF é ligada à igreja católica temos alguns eventos religiosos, mas nada exagerado, somos bem livres pra fazer cultos ecumênicos e outras atividades partindo mais para reflexões que religião propriamente dita. Rolou uma cerimônia de encerramento, na qual eu finalmente entreguei o lenço do meu grupo do Brasil para a direção do grupo daqui, falando num francês sofrível, por estar um pouco envergonhado, e por ter ido correndo buscar o lenço. Mas foi emocionante mesmo assim.

Depois começamos a dispensar as crianças, e, mais uma vez, começou a diversão dos chefes. Ficamos ainda uma hora e meia comendo doces, tomando suco e papeando. Antes de terminarmos cantamos mais uma vez as duas canções que citei acima.
Finalmente terminadas as atividades do fim de semana voltamos para a cidade. O Benoît e a Celine - um chefe e sua namorada, que participou esse fim de semana como chefe convidada para conhecer o movimento - nos deixaram no nosso ponto de encontro de sempre e eu e o Guillaume partimos de BusWay de volta pra casa. 

Mais uma pro rol do 'Como não podia deixar de ser": voltando eu tinha certeza que seria uma pessoa útil, mas tomei banho e capotei pra só acordar no dia seguinte. Como quando eu era escoteiro de primeira viagem.



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